OUTUBRO 2019 A JUNHO 2020
Rui Brás
Diretor executivo do Festival Novas Invasões

UM FESTIVAL VENCEDOR

Realizou-se em 2019 a 3.ª edição do Festival Novas Invasões.


Quando, em 2010, se comemorou o Bicentenário da construção das Linhas de Torres Vedras, surgiu a ideia de criar um evento, inspirado na história das invasões francesas e na defesa do território nacional, que aliasse uma componente contemporânea e atraísse visitantes para a região das Linhas de Torres Vedras. 

Na década anterior, os municípios que constituem a Rota Histórica das Linhas de Torres promoveram um vasto conjunto de ações de valorização do património cultural, incluindo o restauro de fortes, redutos e caminhos militares, a construção de novas acessibilidades e centros de interpretação, a realização de trabalhos de investigação, nomeadamente escavações arqueológicas, a organização de colóquios e conferências, e a edição de novas publicações, quer de natureza científica quer de índole turística. A concretização deste projeto foi possível graças ao financiamento do EEA Grants e dos municípios, tendo sido reconhecido e galardoado, nacional e internacionalmente, com destaque para o Prémio Europa Nostra, na área da conservação, em 2014.

As iniciativas concorrentes para a divulgação pública dos acontecimentos oitocentistas continuaram em 2012, ano em que estreou o filme As Linhas de Wellington, com um elenco internacional e passagem pelos principais festivais de cinema, tais como Veneza, Nova Iorque e Cannes. Em Portugal, para além das salas de cinema, foi exibido na televisão pública, em formato de série com 3 episódios. Foi realizada ainda uma versão exclusiva, em formato documentário, para o Centro de Interpretação das Linhas de Torres Vedras (Forte de S. Vicente).

O Festival Novas Invasões assume um formato híbrido, enquanto evento cultural, aliando as recriações históricas à criação contemporânea. É, na sua génese, um espaço de confronto criativo e de afirmação de uma visão europeia, baseada na diversidade e na necessidade de contacto entre as chegando ao hospital, homens ensanguentados, transportados por maca e vindos da frente batalha, para receber cuidados médicos. Por entre gritos e lamúrias, relataram as desventuras e privações a que foram sujeitos…um cenário altamente realista, onde esteve presente a pedagogia, muito do agrado dos mais novos. As recriações históricas invadiram também o Castelo de Torres Vedras e o Forte de S. Vicente com desfiles, demonstrações do funcionamento da telegrafia ótica, de armamento histórico, escaramuças entre exércitos beligerantes, manobras militares e outras atividades históricas.

Os novos invasores trouxeram a pluralidade de ideias e de visões do mundo, abrindo espaço às utopias e mudanças da vida comum, através da expressão artística, da cultura, do pensamento partilhado e da convivialidade social. O Festival destina-se ao público geral e, em especial, às famílias que procuram entretenimento, lazer e conhecimento, valorizando iniciativas que cruzem a cultura popular com as práticas de expressão artísticas e criativas contemporâneas, num contexto informal e de relacionamento interpessoal. A edição de 2019 deu continuidade a este diálogo fundamental, estrutural e criativo, entre um tempo histórico e o nosso tempo presente. A programação desta edição procurou sugerir novos espaços de experiência, apostando na partilha e na criação singular, convocando o associativismo a fazer parte da construção de uma festa que marca a agenda e os processos de vida urbana. 
Uma edição marcada pela ‘deambulação’, instigada pela descoberta, propondo que espetadores e artistas se cruzassem e dialogassem através da vivência dos espaços físicos e imateriais de uma cidade que se reconstrói através da festa e da comunhão. Foram mais de uma centena de ações, entre espetáculos, workshops, exposições e experiências turísticas e gastronómicas. 

Tendo como país convidado a Alemanha, o Festival preparou um leque abrangente e diversificado de ofertas, com destaque para o espetáculo inaugural, Sonnambulo da companhia Theater Titanick. Inspirado na obra de Hieronymus Bosch, trasvestiu o parque do Choupal com o universo obscuro deste artista, construindo dez cenários imaginados, através da utilização de personagens misteriosas, simbólicas e originais. As muitas centenas de pessoas que assistiram a este espetáculo seguramente não o esquecerão…

A presença do ‘novo invasor’ teve continuidade no Ciclo de Cultura Alemã, que contou com uma oferta gastronómica de inspiração teutónica, a contação de histórias dos irmãos Grimm, workshops de caligrafia schwarbacher, de danças tradicionais alemãs e de cerveja artesanal, um ciclo de cinema com a presença do realizador Philipp Hartmann e as invasões poéticas de Paulo Condessa.

Outra das novidades da edição de 2019 foi o convite à apre-sentação de projetos originários de organizações culturais locais para integrarem a programação contemporânea do Festival. Foram selecionados 5 projetos, Com que Linhas se Descose a Guerra, da Bolha – Teatro de Marionetas, A-da-Vinha, do Académico de Torres Vedras, Struggle Like a (Wo)Man #1, de Sónia Carvalho (Emerge), Nós Pés Carrego as Emoções deste Mundo, da CruzaMenTes – Cia. de Música Teatral, e Casa Hipólito – O Modus Operandi, da Cooperativa de Comunicação e Cultura. Para além destes projetos, foram ainda apresentadas duas criações originais, encomendadas para o Festival Novas Invasões, a ópera comunitária É Preciso Resistir, produzida pela AREPO – Associação de Ópera e Artes Contemporâneas, a partir do libreto de Rui Zink, composição de Luis Soldado e encenação de Linda Valadas, e a performance Fazer o Caminho que se Faz Fazendo, de Gil Ferrão. Esta linha de programação constitui uma aproximação ao universo da criação artística local, estimulando a participação mais alargada dos agentes culturais e o desenvolvimento criativo de projetos a partir do universo imaginado da ponte temporal entre o século XIX e os dias de hoje.

Foram 4 dias de experiências intensas, mais de uma centena de ações, a participação de dezenas de associações, de artistas e companhias de diversos países, do comércio local e restauração, que atraíram cerca de 40.000 pessoas a Torres Vedras. O Festival Novas Invasões regressa em 2021.

   ARTIGO ANTERIOR
PRÓXIMO ARTIGO