JULHO A NOVEMBRO 2020
Ana Umbelino
Vice-Presidente da RHLT

“As Linhas de Torres Vedras são bem mais do que um acontecimento da História. Representam a história dos homens, mulheres e crianças que as construíram, e das gerações que à sua sombra cresceram e viveram.”
(CLÍMACO, 2010, 153)


Referência incontornável nos domínios da engenharia e arquitectura militares, as Linhas Defensivas de Lisboa, consagradas como Linhas de Torres Vedras, constituem um recurso insubstituível para narrar a história europeia, favorecendo uma interpretação enriquecedora, perspectivante e poliédrica de um passado comum.

A gravitar em torno do património integrante das Linhas de Torres Vedras, a Rota Histórica corporiza um itinerário turístico-cultural de carácter temático, cuja gestão se encontra ancorada na Associação para o Desenvolvimento Turístico e Patrimonial das Linhas de Torres. Composta por municípios e entidades de natureza pública e privada, a esta associação compete garantir a preservação e salvaguarda, conservação e reabilitação, valorização e divulgação do património que constitui o núcleo central da Rota. 

Na sua praxis, reconhece inteiramente a assumpção de que “o património cultural da Europa constitui uma fonte comum de memória, compreensão, identidade, diálogo, coesão e criatividade”1 – “um recurso partilhado e um bem comum em benefício das gerações futuras”2. 

Como impulso e horizonte, avulta, no âmago desta associação, a experimentação de novos modelos de governação e de gestão do património cultural e o ensaio de estratégias de desenvolvimento local que maximizem o potencial intrínseco de que a Rota é detentora.

Ao longo dos anos, a Rota Histórica das Linhas de Torres tem vindo, com passos firmes e seguros, a afirmar-se como produto turístico-cultural multi-gerações e multi-segmento, capaz de condensar um sistema de experiências de edutainment/culturtainment. Uma oferta turística integrada e diferenciada, alicerçada na complementaridade entre recursos e produtos endógenos (emergentes e/ou já estruturados/consolidados), de que constitui exemplo cimeiro o Turismo Militar, começa a ganhar corpo e substância. Neste particular, programas destinados a nichos de mercado na área do touring cultural e paisagístico ganham paulatinamente expressão e uma dimensão internacional, em estreita ligação com itinerários culturais transnacionais que aproximam diferentes territórios, projectando-os num espaço identitário comum.

As Linhas de Torres Vedras são, inequivocamente, geradoras de oportunidades de negócio que concorrem para a revitalização do tecido socioeconómico, com especial incidência na criação de micro-negócios. 
A Grande Rota Pedestre, e os diversos circuitos que alberga, têm incrementado actividades de lazer e de ocupação qualificada de tempos livres, quer para residentes quer para visitantes e turistas, fazendo recrudescer e ampliar o escopo de empresas de animação turística que proporcionam visitas culturais temáticas. Em concomitância, adegas, quintas e unidades de enoturismo começam a desenhar ofertas dedicadas às Linhas de Torres em conexão com agentes económicos.

Todos estes encorajadores sinais reclamam um investimento constante na co-construção de conhecimento, aproximando a academia, os municípios, os actores privados e as comunidades. 

A investigação é, reconhecidamente, o substracto da criação e recriação inovadora de conteúdos com aplicações em toda a cadeia de valor. O turismo de nicho (fiel ao valor da sustentabilidade) e a customização da oferta reclamam elevada conectividade entre os diversos actores e agentes, preludiando uma estreita colaboração. Tornar essa acção colectiva visível, reduzindo a sua opacidade junto dos cidadãos e cidadãs, é um compromisso de sempre que, com esta publicação, se cumpre, refresca, actualiza e renova!

Ana Umbelino

P.S. Os tempos presentes, marcados por uma inesperada crise pandémica, com assinalável impacto na indústria do turismo, reclamam estratégia, resistência, inventividade e cooperação, por via da mutualização de recursos. Ontem como hoje, impõe-se erguer pontes, construir criativamente alternativas e soluções perante a adversidade, traçar novos caminhos e horizontes… que reconstruam o papel do turista, tornando-o verdadeiramente um “cuidador” do património. Nesse exigente processo, e na busca constante de um equilíbrio e compromisso entre o real e o (im)possível, as Linhas de Torres Vedras são, indubitavelmente, fonte de inesgotável inspiração. 

Referências bibliográficas:

CLÍMACO, Cristina (2010). As Linhas de Torres Vedras: Invasão e resistência: 1810 – 1811. Torres Vedras: Câmara Municipal; Lisboa: Colibri.

MARTINS, Guilherme d’ Oliveira (2017, 11 de dezembro). Europa, memória e património cultural. Diário de Notícias. Acedido a 3 de Janeiro de 2020, em https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/convidados/interior/europa-memoria-e-patrimonio-cultural-8975910.html.

MARTINS, Guilherme d’ Oliveira (2017, 5 de setembro). Património cultural e futuro. Público. Acedido a 3 de Janeiro de 2020, em https://www.publico.pt/2017/09/05/culturaipsilon/opiniao/patrimonio-cultural-e-futuro-1783716/.

 
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