DEZEMBRO 2020 A JUNHO 2021

IGREJA DE SANTO QUINTINO

Classificada como património nacional desde 1910, a Igreja de Santo Quintino foi mandada edificar em 1520 pelo rei D. Manuel I, contando-se entre os mais belos templos de arquitetura manuelina e renascentista. É visitada regularmente por estudantes e turistas, a quem invariavelmente conquista pela diversidade da sua azulejaria, pintura e escultura, e acolhe periodicamente corais e concertos de música clássica.

Do lado direito do pórtico manuelino exterior encontra-se uma porta em arco quebrado entaipado, ao que tudo indica remanescente de um anterior templo medieval dedicado ao culto de Santa Maria de Monte Agraço.

Desse mesmo lado, numa cartela junto ao pórtico, está inscrita a data de 1530. Não se sabe se esta data se refere ao recomeço das obras de construção da igreja, iniciadas 10 anos antes, ou à conclusão do portal. Este é envolvido por pilastras e frontão triangular e o arco está enquadrado por uma composição gabletada, com dupla moldura superior e vários elementos decorativos de estilo manuelino e renascentista.

No nicho axial, que se encontra ladeado por dois medalhões com dois bustos, provavelmente dos patrocinadores das obras de construção da igreja, pode ver-se a imagem de Santa Maria de Montagraço.

Acima do portal nobre abre-se um pequeno óculo, sobre o qual se desenha a empena triangular, rematada por pedestal com cruz latina. A torre sineira eleva-se em dois pisos, marcada superiormente por fogaréus barrocos e cúpula bolbosa.

Sobre a razão que terá levado à construção de um templo desta dimensão num local tão modesto, nada se sabe. Supomos que a documentação que poderia responder a essa questão ter-se-á perdido aquando do grande terramoto de 1755.

A Igreja, de assinalável qualidade, situa-se na fase final da arquitetura manuelina e foi alvo de várias intervenções em épocas diferentes, responsáveis pela combinação de várias linguagens artísticas, desde o manuelino até ao renascimento, passando por reformas barrocas do século XVIII. Esta característica faz dela um verdadeiro mostruário de azulejaria e de estilos arquitetónicos e artísticos distintos.

O seu interior possui três naves de cinco tramos, divididas por colunas com capitéis decorados com motivos fitomórficos, sobre as quais assentam grandes arcos redondos, decorados por azulejos de tapete, de padrão largo. Os tetos são de madeira e as paredes foram revestidas de azulejos de padrões únicos.

Na parte superior das paredes vemos grandes painéis de tapete do século XVII, enquanto no silhar inferior encontramos um característico motivo de albarradas, já do século XVIII.

A meio da nave central ergue-se um invulgar púlpito de pedra quinhentista que conserva a sua decoração pitoresca, representando os quatro evangelistas, Mateus, Marcos, Lucas e João.                                                                                                                                                                               



Em frente, a cabeceira é constituída pela capela-mor e por duas capelas colaterais providas de abóbadas de cruzaria com bocetes.

Pelas capelas da igreja estão distribuídas cinco tábuas quinhentistas, reveladoras de uma estética aparentada com a de Giulio Romano.

Estas pinturas são de boa qualidade plástica, dos começos do maneirismo nacional e atribuídas ao denominado Mestre de S. Quintino, constituindo o que resta do desmembramento do retábulo maneirista que aqui existiu. 
Sobre o arco triunfal da capela-mor está um revestimento de azulejos policromos do século XVIII, em que figuram a Anunciação e a Visitação à virgem Maria, e que ladeiam o nicho manuelino, onde “descobrimos” a escultura pétrea do Calvário. 
A teia da capela-mor é do século XVII. Na parede do topo, o antigo retábulo foi substituído por um revestimento de azulejos que nunca foram usados em tal função. Cobrindo a parte frontal do altar encontramos um conjunto importante de azulejos hispano-mouriscos e uma Pietà – que é a padroeira da igreja - Nossa Senhora da Piedade. 
Os painéis oitocentistas das paredes laterais são alusivos à Anunciação e à Assunção da Virgem. Há, também, duas valiosas tábuas quinhentistas, uma de cada lado da capela, com a pintura da Visitação e do Encontro de Cristo com a Virgem.

À direita da capela-mor está a capela dedicada ao orago da igreja, Santo Quintino, decorada com painéis de azulejo do século XVIII que representam cenas alusivas ao martírio do Santo. A abóboda ostenta uma pintura decorativa seiscentista. Entre muitos outros elementos, vemos a representação de duas espadas cruzadas, que são alusivas aos ferros com que martirizavam o Santo. No altar estão as imagens quinhentistas de Santo Quintino, que parece ter sido esculpida num bloco inamovível, de Santa Luzia e de S. Sebastião.

Saint-Quentin é um santo de culto francês cuja devoção terá sido trazida, provavelmente, pelos cruzados do norte de França que vieram ajudar os reis portugueses na reconquista cristã.

Em Portugal, este é o único local em que se conhece veneração a Santo Quintino, patrono da freguesia com o mesmo nome. A ele, os devotos recorrem para doenças de ouvidos, dores de cabeça e proteção das searas e celeiros. Era também comum colocar o barrete do Santo na cabeça das crianças para que “adquirissem sensatez”. 
À esquerda da capela-mor, está a capela de invocação a S. Pedro, onde se venera a imagem quinhentista do Santo. Os azulejos do altar são hispano-mouriscos, assim como os azulejos lisos, verdes e brancos, a formar xadrez, que revestem a parede do fundo. Sobre o altar encontramos a terceira tábua quinhentista com a representação do Calvário.

Nos silhares de azulejos do século XVIII das paredes laterais figura a vida de São Pedro. Sobre o arco da entrada da capela, a composição de azulejos do século XVIII, da mesma série dos do arco triunfal, representa o Naufrágio. 
A Capela do Santíssimo, que se situa na lateral esquerda da igreja, data do séc. XVIII. Em cada uma das paredes laterais está uma tábua, completando a série de cinco tábuas quinhentistas que representam o Cristo a caminho do Calvário e a Deposição. Destaca-se, no altar, a imagem de Santa Maria.

Apesar de ter recebido várias intervenções de recuperação, as mais profundas já durante o século XX, estas não foram motivadas pela destruição e saque provocados pelas tropas francesas durante a sua permanência na região, já que a estes foi poupada, tendo beneficiado do facto de junto ao templo se ter estabelecido um quartel-general avançado do exército anglo-luso.

À entrada da igreja, do lado esquerdo, situa-se um dos mais harmoniosos exemplares quinhentistas de batistério. Da autoria de Simão Correia, revela apuro de formas clássicas na sua pequena cúpula, apoiada num jogo de finas colunas que repousam no cilindro envolvente de cantaria.

A cúpula é revestida por notáveis azulejos seiscentistas em ponta de diamante, tendo no seu interior azulejos setecentistas figurando o Batismo de Cristo e a octogonal pia batismal, de sabor renascentista, assente numa base de recorte gótico.

Junto à cúpula pode-se ler a seguinte inscrição: ”Esta é a capela batismal em que se lava o pecado original”. 
Não deixe de visitar a Igreja de Santo Quintino, vai com certeza ficar surpreendido. Pode fazê-lo livremente ou acompanhado pelos áudio-guias que pode levantar no Posto de Turismo de Sobral de Monte Agraço.

Contactos
Largo Dom Manuel I – Santo Quintino
2590-288 Sobral de Monte Agraço
Posto de Turismo: (+351) 216 942 296
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