Os moinhos de vento constituem elementos de destaque na região Oeste, conferindo à paisagem uma expressão viva da cultura e etnografia das suas gentes e sendo hoje reconhecidos como uma marca identitária regional. Só no território de Sobral de Monte Agraço existem ainda 43 moinhos, mas apenas um é utilizado para visitas culturais, educativas e turísticas.
Inicialmente de madeira, começaram a ser construídos em alvenaria por volta do século XVI, ficando conhecidos por “Moinho Português” ou de tipo “Mediterrânico”. Um exemplar deste tipo de arquitetura é o Moinho de vento de Sobral de Monte Agraço, sobranceiro à vila, com uma vista privilegiada para a Serra do Socorro, para o Forte do Alqueidão e para a área protegida da Serra de Montejunto.
O moinho do Sobral, de dimensão média, está pintado de azul e banco e no seu exterior pode observar-se três janelas, o capelo, o catavento, representado pelo Galo dos Ventos – elemento combinando uma figura de Galo e uma Rosa dos Ventos simplificada, que, ao ser impulsionado pelo vento indica a sua direção -, o mastro, as varas, os búzios de meia canada e quatro velas triangulares.
As velas do moinho tiveram outrora uma simbologia própria e podiam ser utilizadas pelo moleiro para comunicar com a população da comunidade. Por exemplo, uma vela aberta e três enroladas “diziam” que o moleiro não estava no moinho; uma vela de lado, não voltada ao vento, informava que o moinho não estava a trabalhar, estando o moleiro a picar as mós; se as velas estivessem voltadas sobre a porta e a vara de trás ficasse no meio desta, isso indicava luto – provavelmente o falecimento de algum parente do moleiro.
O interior do Moinho de Sobral está dividido numa cave, para arrecadação dos materiais e alfaias, e em dois pisos. Em cada um dos pisos trabalhava um casal de mós que tinha por função esmagar o grão, transformando-o em farinha. No primeiro piso, produzia-se farinha de milho e, no piso superior, moía-se o trigo.
Ao moleiro cabia a responsabilidade de controlar a qualidade da farinha, ingrediente fundamental para o fabrico do pão - a base da alimentação popular. O seu trabalho era muitas vezes solitário e exigia grande dedicação.
O moleiro tinha de estar atento à orientação dos ventos para ativar e direcionar o mecanismo de moagem da forma mais eficaz possível; quando não havia vento, dedicava-se a outras tarefas, como a limpeza das impurezas que o grão trazia das eiras ou das máquinas de debulha e que influenciava a qualidade da farinha, cor e sabor do pão. Essa limpeza era feita utilizando o crivo ou a joeira. De vez em quando, era necessário picar as mós para que a superfície de contacto mantivesse a aspereza indispensável para a moagem do grão, reduzindo-o a farinha. Para isso, ele utilizava o picão de dois bicos.
Normalmente, o moleiro fazia-se acompanhar dum gato, para afastar os ratos, e dum cão que guardava a propriedade.
Era também sua função a entrega da farinha. De aldeia em aldeia, o moleiro transportava os sacos de farinha num burro ou numa carroça. Distribuía a carga e trocava informações e notícias que levava e trazia dos locais por onde passavam, estreitando assim as relações de vizinhança entre as populações.
Durante a Terceira Invasão Francesa, muitos moinhos de vento foram desmantelados para privar o exército francês de produzir alimento; outros foram transformados em posto avançados de observação, beneficiando da sua colocação no terreno; outros ainda foram utilizados como paióis, quando incorporados pelos fortes das linhas defensivas a norte de Lisboa – as Linhas de Torres Vedras.