DEZEMBRO 2022 A JUNHO 2023

IGREJA MATRIZ DE ARRUDA DOS VINHOS

Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Salvação

Após a reconquista da vila por D. Afonso Henriques, este templo terá pertencido à Ordem dos Cavaleiros Espatários de Santiago, que edificou ou reconstruiu a igreja, pertença do padroado real e, por doação, ao prior do Convento de São Vicente de Fora. No século XII, o rei D. Sancho I doou-o à Ordem de Santiago, ficando, juntamente com as igrejas sufragâneas a Óbidos, integrada no bispado de Lisboa.

Segundo a tradição, no século XVI D. Manuel I terá mandado reconstruir a igreja, bastante danificada por terramotos, no seguimento da sua estadia em Arruda em fuga da peste, aplicando obras de reforma e ampliação que culminaram no reinado de D. João III, como é o caso do portal manuelino, cuja data, 1531, se pode observar no adro calcetado.

Em Ação de Graças por a família real ter saído ilesa da epidemia e por fé na milagrosa Santa, o orago da igreja foi alterado para o de Nossa Senhora da Salvação, celebrando-se festejos em sua honra todos os dias 15 de agosto.

De planta longitudinal de influência mendicante, com três naves de cinco tramos, apresenta uma torre sineira quinhentista quadrangular, com sineiras polilobadas e rematada por coruchéu piramidal.

O portal manuelino é o principal elemento de contemplação da entrada do imóvel, conjugando o arco canopial com cortina de decoração fitomórfica. Com um repertório ornamental próprio da arquitetura manuelina, inspirado em gravuras da arte popular e decorações efémeras, apresenta uma decoração contínua e simétrica de dois caules ondulantes, sustendo folhas e flores da aboboreira que se elevam da boca de um dragão alado (esquerda) e de um cão (direita) sentados sobre pequenos tambores com bocéis, unindo-se no fecho sob pedra de armas com as Cinco Chagas de Cristo. Sobre cada mísula vegetalista assentam duas figuras humanas despidas e relevadas: um jovem e um velho.

O retábulo, barroco da primeira fase do Estilo Nacional, é de talha dourada com dois pares de colunas pseudo-salomónicas decoradas com parras e videira, a enquadrar o camarim e trono com a imagem da padroeira. A imagem de Nossa Senhora da Salvação foi restaurada no século XVI, o que leva a crer que parte da escultura primitiva, inteira e sentada, foi modificada, dando lugar à necessidade de a vestir pelas suas “imperfeições”. Diz a tradição que possuía uma cadeira de espaldar de prata que os soldados de Masséna levaram conjuntamente com objetos de culto de prata.

As paredes da capela-mor estão revestidas de azulejos figurativos com cenas bíblicas no primeiro registo, Sacrifício de Abraão e Scala Coeli da oficina de António de Oliveira Bernardes, e no segundo registo, de tipo arquitetónico, com cartelas, volutas e frisos enquadrando as pinturas quinhentistas com molduras de talha dourada do século XVIII. Datado ainda do século XVIII está o teto do Santíssimo Sacramento que decora esta capela-mor.

Do mestre português quinhentista, Mestre de Arruda dos Vinhos, estão a ornar a capela-mor seis tábuas: Sant’Ana e S. Joaquim, Visitação, Morte da Virgem, Coroação da Virgem, S. João Baptista, S. Pedro e uma sétima junto ao batistério, Assunção da Virgem.

A capela do Santíssimo Sacramento é de arco de volta perfeita revestido de talha dourada e verde com dois nichos laterais, um sacrário com pinturas seiscentistas e uma tela proto-barroca com dístico bíblico, anteriormente pertencente a um cadeiral desta Igreja. Expõe nas paredes azulejos figurativos recortados do século XVIII e alusivos à vida de São Francisco de Assis.

Admiram-se nas naves tapetes de padrões de azulejos policromos variados e os painéis figurativos retangulares: S. Cristóvão e Perseu e Andrómeda, este último também associado à lenda de São Jorge e o Dragão, assim como uma escultura setecentista em mármore de Carrara Santo António com o Menino, da presumível autoria do arquiteto Mateus Vicente de Oliveira, e uma Pietá quatrocentista, gótica e em pedra policromada.

Adossado à última coluna encontra-se um púlpito octogonal sobre colunelo. Contempla-se ainda uma pintura da Anunciação de século XVI, maneirista e nórdica, de autoria desconhecida.

Em 1744 construiu-se o coro alto, de estrutura barroca ondulante com balaustrada onde se podem observar as pinturas do Mestre da Lourinhã do século XVI: Anjo da Anunciação, Virgem da Anunciação, Natividade e Adoração dos Reis Magos.

Em 1810, por ocasião da terceira invasão francesa, o oficial inglês John Kincaid (que mais tarde escreveu as suas memórias) revelou um episódio curioso. Chegado à vila de Arruda, fora surpreendido por uma igreja que não tinha sido danificada nas invasões e que fora construída num "estilo de magnificência". Ao entrar no monumento, o próprio John Kincaid e o Capitão Simmons encontraram o corpo de uma pobre idosa, falecida diante do altar. Deduzindo que a senhora não teria tido tempo de fugir às tropas napoleónicas com a restante população, os dois ingleses decidiram que "deveria ter mais glória na sepultura do que parecia haver tido fora dela". Unindo esforços, conseguiram levantar a laje de uma das sepulturas da igreja e aí deitaram o corpo, tapando-o por fim com todo o cuidado.

Por decreto de 27 de março de 1944, a Igreja Matriz de Arruda dos Vinhos encontra-se classificada como Imóvel de Interesse Público (IIP), classificação essa que se deve ao Professor Reynaldo dos Santos, que terá mencionado o seu espólio artístico, nomeadamente a escultura, os azulejos e a pintura, a par da arquitetura quinhentista.

Horários de visita: segunda a sexta das 9:00 às 12:00 e das 17:00 às 19:00; sábados das 14:00 às 19:00 e domingos das 15:30 às 17:30 (exceto julho a agosto)
Visitas guiadas e outras informações: (+351) 263 977 035
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