Conversámos com o presidente do Turismo de Portugal sobre aspetos cruciais que moldam e impulsionam a indústria do turismo no país.
Enquanto profundo conhecedor do setor, como considera o desempenho do Turismo em Portugal, nos três últimos anos, quanto à oferta, diferenciação e gestão dos fluxos turísticos?
Nos últimos anos, a abordagem estratégica do turismo tem sido fundamental para a trajetória de sucesso que se verifica hoje. A oferta turística está cada vez mais enriquecida e diversificada, com um foco especial na promoção da autenticidade e da experiência única que Portugal oferece aos seus visitantes.
O setor está a trabalhar ativamente na gestão do crescimento sustentável do turismo, apoiado na importância crítica de preservação do património - material e imaterial – garantindo que a atividade turística é, não só sustentável, como indutora de transformação positiva dos territórios e das comunidades. A diferenciação e a sustentabilidade 360º do turismo têm sido áreas preponderantes ao longo dos últimos anos no setor.
Nesta perspetiva, o Turismo de Portugal está empenhado em implementar políticas e medidas que promovam práticas turísticas ambientalmente responsáveis e que equilibrem os interesses de turistas, residentes e operadores turísticos. A instituição tem contribuído com investimentos significativos que visam desenvolver diversos segmentos de turismo, diversificar a oferta, apostar em novos mercados e criar turismo ao longo de todo o ano em todo o território.
O turismo tem, assim, evoluído de forma integral e contínua, com a digitalização a afirmar-se e com o intuito de promover a inovação em toda a cadeia de valor melhorando a eficiência, o desempenho e a competitividade do turismo.
Sendo uma pessoa com larga experiência nesta área, como vê a estratégia e missão do Turismo de Portugal para a projeção do destino “Portugal” no mundo, para a criação de riqueza para o país, ao mesmo tempo que deve afirmar-se como o fator da sustentabilidade para os seus ativos e para as comunidades?
Os resultados positivos provêm fundamentalmente da implementação da Estratégia Turismo 2027 (ET27) que procura alinhar os diferentes pontos de vista dos players do setor e dos diferentes segmentos de turismo, promovendo um trabalho conjunto que aliás já está a dar frutos. Eixo fundamental para a atuação do Turismo de Portugal, este referencial estratégico aborda o setor de forma global, sublinhando a capacidade da atividade turística em criar riqueza sustentável para o país e, também, indicando o caminho para um turismo mais responsável que promove o equilíbrio entre o desenvolvimento económico, a preservação do património e o bem-estar das comunidades locais. Com este enquadramento, o Turismo de Portugal tem vindo a desenvolver iniciativas que promovem a valorização dos ativos turísticos de Portugal, como é o exemplo do turismo militar, que desempenha um papel crucial na preservação da nossa história e na promoção da identidade nacional.
Simultaneamente, tem investido em práticas e políticas que promovem a sustentabilidade ambiental, social e económica do setor de forma holística, assegurando que o turismo beneficia não apenas os visitantes, mas também as comunidades e o ambiente onde se insere. O Destino Portugal consolidará a sua posição cimeira dentre os destinos internacionais, através de um trabalho multidisciplinar que combina as vertentes da promoção, da preservação e da responsabilidade, com o objetivo de garantir um turismo de qualidade, duradouro e benéfico para todos os envolvidos.
O Turismo Militar foi integrado no referencial estratégico para o Turismo em Portugal, com a Estratégia Turismo 2027 (ET27). Que ambição tem o Turismo de Portugal para este segmento?
A ET27 identifica a implementação de uma estratégia nacional para o Turismo Militar como um dos projetos destinados a promover a nossa história e o nosso património, cultural e arquitetónico. Dentre os cinco ativos diferenciadores de Portugal elencados pela ET27, o mais relevante para o Turismo Militar é “História, cultura e identidade”, que inclui os nossos mais de 800 anos de História e o Património Mundial material, reconhecido pela UNESCO, e que está diretamente ligado à história militar.
É neste enquadramento que o Turismo de Portugal tem vindo a apoiar o desenvolvimento de projetos associados à história militar e ao património cultural, nomeadamente nas temáticas dos Itinerários Napoleónicos, Templários, Fortalezas Abaluartadas, Fortalezas de Fronteira. As linhas de financiamento que têm vindo a ser disponibilizadas pelo Instituto, e que têm permitido o investimento na melhoria da estruturação da oferta, são um indicador da nossa ambição em assegurar que o Turismo contribui para a valorização do património e para o seu usufruto, não só pelas respetivas comunidades, mas também por todos os que visitam os territórios.
Uma futura Agenda para o Turismo continuará certamente a destacar os ativos turísticos estratégicos do país, onde se enquadra o património cultural material e imaterial, nas suas diversas temáticas, porque identitárias dos territórios.
A RHLT tem trabalhado para criar um produto que cruze o património das Linhas de Torres com os percursos e os centros de interpretação temáticos, storytelling, experiências imersivas que assinalam o lado humano do conflito, com a gastronomia de época, os vinhos, eventos âncora e com os recursos naturais que tem para oferecer. Que conselhos nos pode dar no sentido de construir uma estruturação de produto consistente?
De facto, a RHLT tem feito um trabalho exímio e exemplar na estruturação e dinamização deste produto turístico tão diferenciador. Deve, por isso mesmo, continuar a trilhar este caminho de dinamização da oferta turística qualificada, em rede e de cross-selling com outros produtos identitários dos territórios abrangidos pela Rota.
Destaco as áreas onde é importante continuarem a trabalhar, em articulação com as Entidades Regionais de Turismo envolvidas e também com a colaboração do Turismo de Portugal: capacitação dos técnicos e das empresas, estimulando o networking e promovendo as acessibilidades físicas e comunicacionais para pessoas com necessidades específicas; desenvolvimento de parcerias e itinerários supramunicipais no âmbito da temática Napoleónica; atração do tecido empresarial envolvente, possibilitando a criação de produtos turísticos estruturados (com inclusão de animação, alojamento, restauração), tendentes à comercialização e promoção nacional e internacional. São, por isso mesmo, boas práticas que importa manter e replicar na estruturação de outros projetos de turismo militar.
Sob o lema “Mude o seu destino onde mudámos o de Napoleão”, a Rota Histórica das Linhas de Torres tem online, desde setembro de 2023, o portal invademag.pt que reúne podcasts, agenda nacional de eventos, os números da revista INVADE, documentários e vídeos promocionais, entre outros. Como considera o papel da inovação e digitalização no Turismo enquanto contributo para a sustentabilidade?
A inovação e digitalização assumem um papel fundamental no Turismo, desde logo ao nível da melhoria da experiência turística. Assim, importa promover a transformação digital e a incorporação de novas tecnologias para a interpretação e fruição do património cultural e natural (ex: Realidade Aumentada, Realidade Virtual, salas imersivas, mapas interativos, …), enquanto formas inovadoras de comunicar e interagir com o património. De facto, esta dimensão tecnológica viabiliza a captação de novos públicos, pelo que as ferramentas de mediação devem ser atrativas, sustentadas em conhecimento robusto e utilizando suportes acessíveis a todos.
A tecnologia contribui para democratizar o acesso e a interpretação do património. Pode ainda ser utilizada na monitorização e gestão dos recursos, no sentido de melhor organizar os fluxos e a capacidade de carga desses recursos, bem como para melhor conhecer e caracterizar os públicos e adaptar os conteúdos às necessidades e expectativas desses públicos. Também a disponibilização em plataformas digitais de informação organizada, acessível, atualizada e em idiomas, é uma forma muito relevante de ajudar e simplificar a “jornada” do turista, quando organiza a sua viagem.
Disponibilizar o acesso a conteúdos em suportes digitais (reduzindo a necessidade do recurso aos suportes em papel), diversificar os canais de comunicação e, através desses canais, perceber melhor a procura, são dimensões da inovação que a RHTL também está a implementar através do seu recente projeto portal invademag.pt. É esse o caminho.
Recentemente, a Rota Histórica das Linhas de Torres participou num projeto, com parceiros portugueses e espanhóis, com vista à criação de rotas de visitas sobre as Invasões Francesas / Guerra Peninsular. Sendo o turismo um setor de grande competitividade, como vê estas parcerias em rede para a promoção conjunta, a gestão de recursos e a oportunidade para que destinos menos conhecidos beneficiem da popularidade e dos atrativos de destinos mais estabelecidos?
É de relevar, nestas temáticas, o envolvimento da RHLT em redes internacionais como é o caso do projeto NAPOCTEP e do Itinerário Cultural do Conselho da Europa Destination Napoleon.
O trabalho em rede promove a cooperação entre os parceiros envolvidos na reflexão e na ação, numa lógica articulada que permite ganhar escala e sinergias e, assim, granjear notoriedade nacional e internacional. Importa manter esta dinâmica de projetos em rede e da promoção conjunta, através de parcerias e redes colaborativas, onde é possível aplicar uma metodologia comum para qualificar os recursos, as respetivas condições de visitação, desenvolver programação e captar as empresas turísticas para o desenvolvimento de produto.
Importa, pois, continuar o trabalho em rede para que os Itinerários Napoleónicos possam continuar a ganhar escala nacional e, consequentemente, notoriedade nacional e internacional. Os mais de oito séculos de história militar do nosso país são uma excelente oportunidade para Portugal se posicionar como um destino competitivo ao nível da história militar no Mundo.
Em dezembro 2023, um consórcio de treze municípios, que incluiu a Rota Histórica das Linhas de Torres, concluiu o projeto Rede das Invasões Francesas em Portugal, apoiado pelo programa Valorizar Interior, do Turismo de Portugal. Deste projeto resultou a produção de um conjunto de recursos turísticos e a criação dos Itinerários Napoleónicos Portugal, que, nesta fase, atravessam o território nacional desde o Porto até Elvas e contam com uma agenda nacional de eventos semestral. Como vê o contributo do turismo para a coesão territorial e a cooperação entre locais e regiões para o impacto económico dos destinos envolvidos?
No âmbito da Linha de Apoio à Valorização Turística do Interior, foram apoiados pelo Turismo de Portugal diversos projetos de desenvolvimento de produtos de Turismo Militar no âmbito das temáticas dos Itinerários Napoleónicos e da Rota dos Templários. O trabalho em rede, para ganhar escala e sinergias, e a criação de novas ferramentas de interpretação e comunicação para diferentes públicos nacionais e estrangeiros, são atributos relevantes desses projetos.
Especificamente no que concerne ao projeto Itinerários Napoleónicos Portugal, destaque-se o envolvimento de 13 municípios (incluindo os que constituem a RHLT), sob a coordenação da CIM Coimbra, com um foco particular no desenvolvimento de conteúdos interativos nos recursos associados a este património e que resultou em excelentes outputs que se pretende se prolonguem no tempo, como a Agenda Nacional de Eventos, que escalou dos 13 parceiros para uma abrangência nacional.
Esta rede temática continuará a ser dinamizada como uma rede de oferta nacional, envolvendo também as Entidades Regionais de Turismo e a colaboração do Turismo de Portugal no apoio à sua contínua estruturação e promoção. As redes de oferta, como esta, assentes em parcerias e de abrangência suprarregional são um contributo efetivo para a coesão territorial e para o cumprimento dos objetivos de desenvolvimento turístico sustentável que pretendemos para todo o país.