JULHO A NOVEMBRO 2020
Fotos: ERTCP

Pedro Machado, Presidente da Entidade Regional do Turismo do Centro de Portugal

Conversámos com Pedro Machado sobre a Rota Histórica das Linhas de Torres, a atual situação do Turismo face à crise pandémica e os desafios que temos pela frente.

A Região do Centro de Portugal foi aquela onde foi mais notório o crescimento do turismo nestes últimos anos. Face à situação pandémica que vivemos em Portugal e no mundo, houve uma mudança nos hábitos de consumo. Devemos esperar que essa mudança perdure no futuro?

O Centro de Portugal foi, de facto, uma das regiões do país em que a procura turística mais se acentuou nos últimos anos. Os números são evidentes. Em cinco anos, entre 2015 e 2019, o total de dormidas subiu 40,4%, numa tendência de crescimento que não dava sinais de abrandamento. Pelo contrário: nos primeiros dois meses de 2020, a procura subiu 20% em relação ao mesmo período de 2019, o que é notável. Depois, aconteceu a pandemia de Covid-19 e tudo mudou. O fluxo de turistas parou e a atividade turística ficou suspensa. Acreditamos, no entanto, que será uma suspensão passageira e que, assim que todas as condições estejam reunidas, a procura pela região regresse a níveis muito positivos – se bem que, naturalmente, a experiência turística vá ser diferente.

De que forma o Turismo do Centro de Portugal se está a preparar para a retoma da atividade turística? Que medidas concretas já estão no terreno?

O Turismo do Centro de Portugal está a preparar-se de várias formas. Por um lado, desde o início desta crise que temos estado em permanente contacto com os empresários da atividade turística, abrindo caminho para o day after que se seguirá à Covid-19. Desenvolvemos vários canais de comunicação e nunca como agora recebemos tantos contactos por parte dos empresários. Juntos, estamos a preparar o futuro imediato. Por outro lado, temos desenvolvido campanhas de promoção, intensificando a presença da região nos meios digitais. Desta forma chegámos mais facilmente às pessoas, que numa primeira fase estavam confinadas em casa. 

Que pontos-chave fazem parte da estratégia que o Turismo do Centro desenhou ou está a desenhar?

No início da crise pandémica, a 19 de março, lançámos a campanha “Haverá Tempo”, em que apelámos ao sentido de responsabilidade dos portugueses. Numa altura em que o isolamento social era a prioridade, pedimos a todos para ficarem em casa e dissemos que “haveria tempo” de voltar a sair. Foi uma campanha com um impacto muito positivo. O comportamento exemplar dos portugueses, que estiveram à altura do desafio, possibilitou que dois meses depois, a 18 de maio, pudéssemos lançar uma nova campanha: a “Chegou o Tempo”. Nesta anunciamos um momento diferente, aquele em que voltamos a sair e a viver, em que redescobrimos o Centro de Portugal como se fosse a primeira vez. Na nossa estratégia está prevista uma terceira campanha, a lançar no verão, numa altura em que, esperamos todos, as restrições estejam mais suavizadas.

Perante o cancelamento das grandes feiras de turismo, em que o Turismo Centro de Portugal costuma marcar presença, como é que o próximo ano está a ser preparado e que implicações podem trazer para o panorama do turismo nacional para 2021?

Ainda é muito prematuro equacionar a presença em feiras em 2021, até porque ninguém sabe exatamente como se vai comportar o vírus até lá. O que posso dizer é que, no seguimento de uma estratégia que já vem de trás, a promoção da região Centro de Portugal incidirá cada vez no marketing digital e menos em presenças institucionais em feiras de turismo. Estas são importantes, continuam a ter o seu lugar, mas queremos estar mais próximos das pessoas e entrar nas suas casas através da internet. 

O facto de o mercado da Região Centro ser um mercado predominantemente interno pode ser uma “vantagem” no período de retoma?

É seguramente uma vantagem. A região Centro de Portugal está menos dependente do que outras dos visitantes estrangeiros. Apesar de estes terem vindo a aumentar nos últimos anos, o que deixa antever que o seu peso seja maior num futuro próximo, a realidade atual é que o mercado interno – isto é, os nossos concidadãos portugueses – é o principal emissor de visitantes para a região, logo seguida do mercado espanhol, a que chamamos “mercado interno alargado”. Todas as análises indicam que este ano os portugueses vão privilegiar o seu país enquanto destino de férias. Temos legítimas expetativas de que o Centro de Portugal esteja na primeira linha das escolhas, pelas características que fazem desta uma região mais segura para visitar nesta altura.  

O setor do Turismo é, indubitavelmente, o mais atingido pela atual crise económica, fruto da crise na saúde pública. Como gostaria que o governo o olhasse?

O setor do Turismo foi, seguramente, um dos mais afetados pela Covid-19 e, por ser um setor tão importante para a economia nacional, merece ser olhado com mais atenção pelo Governo. Faço meus os anseios dos empresários desta atividade, que apelam a que o Governo seja mais ambicioso nas ajudas diretas. Foram anunciadas no início da crise uma série de medidas de apoio ao setor, mas que eram insuficientes, como se queixaram os empresários, uma vez que se trata de soluções de crédito. Enquanto presidente do Turismo Centro de Portugal defendi, logo no início da pandemia, a necessidade de se criar um financiamento a fundo perdido para a tesouraria das empresas de atividade turística. O crédito não é solução para a maioria das empresas turísticas, que não têm liquidez para poderem suportar os próximos meses. 

A menos que em breve surja uma vacina para o Covid-19, as restrições à mobilidade e acessibilidade estão para durar, o que afeta profundamente o setor do turismo. Na sua opinião, qual o equilíbrio entre o regresso da atividade turística e as medidas de saúde pública que nos terão de acompanhar durante um tempo que ainda ninguém consegue determinar?

Não sou tão pessimista. Acredito que as restrições sejam paulatinamente menos severas, como, aliás, já se está a assistir. No momento desta entrevista, os indícios são de que neste verão já será possível ter férias mais aproximadas da normalidade, o que há poucas semanas parecia ser impossível. Mas ainda se conhece pouco da doença e ninguém sabe prever com exatidão como ela evoluirá até julho e agosto. Seja como for, defendo que a saúde pública está, naturalmente, em primeiro lugar. As nossas autoridades de Saúde têm sido competentes e as medidas tomadas pelo nosso país foram eficazes – de tal forma que Portugal é considerado um caso de estudo a nível internacional. É de continuar a seguir as recomendações das autoridades, como é evidente.

Que mudanças estruturais pode o Turismo ter de fazer? Passa por uma reorganização da oferta turística?

O Turismo tem realizado em Portugal mudanças estruturais profundas, que posicionaram o país como um dos principais destinos mundiais. Haverá até poucas outras atividades que tenham mudado tanto tão depressa e que estejam tão bem preparadas para os desafios que agora se colocam. Mais do que uma reorganização da oferta, é fundamental uma adaptação à economia digital. O Turismo foi pioneiro nesse processo de adaptação e é nesse caminho que se deve continuar a apostar. Esta crise obrigou, inclusivamente, à aceleração dessa transição por parte das empresas que ainda eram reticentes à mudança. Hoje, todos os empresários perceberam que têm de estar presentes, com qualidade e de forma visível, nos meios digitais.

Que modelos de negócio poderão surgir para alavancar esta mudança?

Muitos e variados. O turismo pós-Covid-19 será pautado por uma preocupação maior por parte de quem viaja em aspetos como a segurança, a higiene, a natureza, a sustentabilidade, a cultura, o património ou a História. Empresas de atividade turística que tenham em conta estes fatores, que aproximem as pessoas da natureza, que não olhem para os visitantes como números, mas sim como pessoas, cada uma com as suas particularidades, que lhes proporcionem experiências personalizadas e genuínas no território, vão ter espaço para crescer. A tendência já era essa, antes da doença, e vai seguramente acelerar. Esta circunstância favorece o Centro de Portugal, que é um conjunto de territórios que dispõe dos produtos turísticos que os novos viajantes vão procurar.

Sendo conhecedor do trabalho que tem sido realizado pela Rota Histórica das Linhas de Torres (RHLT), qual é a sua visão sobre o segmento do Turismo Militar?

O segmento do Turismo Militar é um filão por explorar. O país ainda não tem a perceção exata do que significa o Turismo Militar e temos todos de colmatar essa falha. Trata-se de um produto turístico com grande potencial, que está a fazer o seu processo de maturação. Os produtos turísticos de sucesso, salvo raras exceções, não surgem por acaso: são resultado de um trabalho de sapa, de desbravamento de caminho e de muito trabalho, que demora o seu tempo até atingir os objetivos. É esse o caminho que está a ser feito pelo Turismo Militar. Agora, é inegável que Portugal, e a região Centro em particular, têm aqui um ativo que reúne todas as condições para se afirmar como um pilar da atividade turística. Queremos que o Turismo Militar se transforme num produto que traga mais turistas à região Centro. Não é por acaso que, no Plano Regional de Desenvolvimento Turístico do Centro de Portugal, que apresentámos no final do ano passado, a História assuma um lugar de destaque.

Como se pode posicionar a Rota Histórica das Linhas de Torres na retoma turística?

A Rota Histórica das Linhas de Torres pode assumir um papel importante na retoma turística. Por ser, dentro do produto Turismo Militar, um dos projetos mais maduros, tem mais capacidade do que outros de atrair visitantes. As Linhas de Torres merecem ter um lugar de grande destaque. Há poucos sítios no país com tanto significado histórico. Se não fossem as Linhas de Torres, se não fosse o engenho anglo-português que as pensou e edificou, a História do país – e, quem sabe, da Europa – seria, muito possivelmente, outra. É essa importância histórica e no imaginário coletivo dos portugueses que tem de ser associada a este produto turístico, dando-o a conhecer a cada vez mais pessoas.

Há a expetativa de que o mercado interno seja o primeiro a reagir. Neste sentido, quais os maiores desafios que a RHLT enfrenta, uma vez que estava ainda a dar os primeiros passos como produto turístico diferenciado?

Esta crise vai ser uma crise passageira. Por muito negras que pareçam ser as perspetivas hoje, o sol vai voltar a brilhar para o turismo em Portugal. É verdade que o turismo interno vai ser o primeiro a reagir, já neste verão. Sem dúvida que é uma oportunidade que se cria para a RHTL. De resto, este é um projeto que deve continuar a trilhar o seu caminho, com passos cada vez mais seguros e afirmativos. A aposta no Turismo Militar de forma integrada, desde a Fortaleza de Almeida até às portas de Lisboa, pode efetivamente ajudar a criar novos fluxos turísticos, sobretudo virados para as regiões de mais baixa densidade.



A segurança e a confiança vão ser palavras-chave para que o visitante/turista comece a reagir. O Turismo do Centro tem previsto algum plano de formação para os técnicos de entidades públicas e privadas para capacitar quem acolhe os turistas?

Temos estado a trabalhar de forma próxima e intensa com os protagonistas da atividade turística, no sentido de aquilatarmos das necessidades de formação na sequência da Covid-19. A face mais visível desse trabalho é a série de videoconferências, a que chamámos “Vê Portugal ON”, que realizámos com todos os setores desta área. O sucesso destes webinars formativos excedeu as nossas expetativas. Além disso, temos estado em permanente diálogo com as associações do setor. Não temos dúvidas de que os turistas vão ser recebidos com mais segurança do que nunca, embora com o conforto de sempre.

A RHLT ambiciona vir a posicionar-se como um turismo de emoções. Tem feito um enorme esforço para conciliar uma oferta histórica e cultural com outras experiências do território, como sejam a gastronómica, o enoturismo, os momentos de bem-estar e lazer, que podem passar por atividades que resultam da simbiose do seu património com a natureza, com pitadas de histórias da História. O objetivo é proporcionar ao visitante a descoberta do que o território tem para oferecer e para isso, tem contado com pequenas empresas de animação, restauração, hotelaria, artesanato e oficinas de doçaria, entre outros parceiros. Como prevê o futuro destes parceiros, tão essenciais à dinâmica turística?

O caminho é mesmo esse, o da complementaridade da oferta. O Turismo Militar, como todos os produtos turísticos, tem de ser cruzado com outros produtos, de forma a gerar uma experiência completa. Quando pensamos o turismo militar associamo-lo imediatamente ao turismo cultural, mas pode e deve ser cruzado com outros produtos, como são os casos do enoturismo, da gastronomia ou do turismo ativo. Uma experiência de Turismo Militar não pode ser só ir ver uma fortaleza e voltar para o hotel ou para casa. Têm de ser dadas a conhecer outras experiências conexas, como trilhos para fazer a pé nas imediações, provas de vinhos, restaurantes, artesanato, museus… Prevejo um futuro promissor para os parceiros que apostem na criatividade e em gerar experiências enriquecedoras junto dos clientes do Turismo Militar – depois, naturalmente, de a pandemia se atenuar. 

Que medidas estão previstas para micro e pequenas empresas que não passem necessariamente pelo endividamento?

O Governo anunciou no início da crise várias medidas de apoio ao setor, para fazer face à suspensão da atividade turística, mas foram manifestamente insuficientes, e disso se queixaram os empresários. Defendemos, logo no princípio da pandemia, a necessidade de se criar um financiamento a fundo perdido para a tesouraria das empresas de atividade turística, uma vez que a maioria das medidas que foram apresentadas assentavam em soluções de crédito. O crédito não é solução para a maioria das empresas, que não têm liquidez para poderem suportar os próximos meses. Sem perspetivas de receitas, as empresas têm receio em endividarem-se, por baixas que sejam as taxas de juro. Posteriormente, o Governo anunciou a criação de apoios com verbas em 80% a fundo perdido para micro e pequenas empresas. No entanto, este apoio incide apenas em investimentos e despesas com a aquisição de material de proteção individual para os trabalhadores e higienização dos locais de trabalho. Ou seja, não incide na tesouraria das empresas, que é do que elas mais precisam. Esperamos que o Governo ainda siga esse caminho. Caso contrário, muitas microempresas fecharão de vez as portas, gerando mais desemprego.

O que acha que o Turismo do Centro pode fazer em colaboração com o turismo militar e, designadamente, com a Rota Histórica das Linhas de Torres para afirmar a retoma, tão necessária para as empresas e associações na área do Turismo?

O Turismo do Centro está disponível, como sempre esteve, para ajudar na divulgação dos produtos turísticos que sejam uma mais-valia para a região, como é o caso da RHLT. O investimento deve tentar assegurar, em primeiro lugar, uma presença digital mais visível para a Rota Histórica. De nada serve o produto final ser de grande qualidade se as pessoas não o conhecem. Há hoje uma multiplicidade de canais e plataformas em que a Rota Histórica deve estar presente. Centros de interpretação virtuais, em que possamos recolher a informação a partir de casa, e a partir daí fazermos a nossa própria viagem, por exemplo. Ainda temos um caminho para fazer nesse sentido. 

A Entidade Regional do Turismo do Centro de Portugal é parceira, tal como a RHLT, no projeto NAPOCTEP - Rotas Napoleónicas por Espanha e Portugal -, que está a ser desenvolvido ao abrigo do Programa de Cooperação Transfronteiriça Interreg V-A Espanha-Portugal. Vê este projeto com capacidade para a valorização do enorme património cultural das Invasões Francesas, gerando um produto turístico diferenciado, de qualidade, sustentável, atrativo e que permita gerar atividade económica e emprego na região? 

O NAPOCTEP é outro projeto que apresenta grande potencial e atratividade de turistas. Têm sido dados passos importantes nesse sentido. O objetivo é que o património da época das invasões francesas possa ser transformado num produto turístico único, inserido no itinerário cultural europeu “Destino Napoleão”, que abre várias possibilidades de rotas históricas, culturais, turísticas e gastronómicas. O NAPOCTEP junta itinerários napoleónicos em Portugal e Espanha, e pretende-se, precisamente, que seja capaz de criar riqueza e emprego em regiões dos dois países. No território nacional, o NAPOCTEP abrange extensos territórios do Centro de Portugal, que vão desde a zona raiana até às Linhas de Torres. É muito importante trabalhar as regiões Centro de Portugal e as regiões espanholas nossas vizinhas, como Castela e Leão e a Extremadura, como um só destino, onde não haja fronteiras. Há muito que nos apresentamos juntos em feiras internacionais, numa cooperação transfronteiriça que tem vindo a ser elogiada a nível internacional.

Alguns dos associados da RHLT estão a participar no projeto AccessTUR – Centro de Portugal, um projeto de promoção do turismo acessível e inclusão social, promovido pela Accessible Portugal, com o apoio do Turismo do Centro e das oito Comunidades Intermunicipais (CIM) do território. Em que medida este projeto, que já está em curso, pode contribuir para gerar confiança, segurança e atratividade no visitante, nos tempos que correm?

O projeto Accesstur-Centro de Portugal é um projeto de promoção do turismo acessível e inclusão social que, através da qualificação da oferta e da procura turística, da desmistificação dos preconceitos e estereótipos sobre as pessoas com deficiência ou com alguma característica especial, e do potencial turístico da região, pretende posicionar o Centro de Portugal enquanto destino de turismo acessível e inclusivo. O desenvolvimento do projeto assenta na dinamização de uma rede regional de parceiros que, tendo em consideração as diferentes sensibilidades do território e dos recursos, pretende criar oportunidades de negócio, aumentar a qualidade da oferta turística, capacitar os agentes, sensibilizar as comunidades e afirmar a região enquanto destino para todos. Neste sentido, o envolvimento de todos permite a construção de um destino responsável, acolhedor, inclusivo e seguro - ingredientes indispensáveis para atrair o turista, fidelizar o cliente e aumentar a competitividade do destino. Comunicar um destino em que a oferta turística é construída por todos os intervenientes em estreito alinhamento é, por si só, um garante para criar interesse, confiança e segurança do turista, qualquer que seja a sua condição. Para o território é uma mais-valia em termos de posicionamento e diferenciação.

Como acha que a RHLT pode “capitalizar” a favor do turismo português o facto de as Linhas de Torres Vedras terem sido recentemente classificadas como Monumento Nacional e já distinguidas com os Prémios Europa Nostra e Turismo de Portugal?

São classificações e distinções importantes, claro. Todos os prémios e selos que certifiquem a qualidade de um destino ou de um produto turístico contribuem para que a sua divulgação seja mais eficaz. Em concreto, ao aumentar-se o leque de destinos de Turismo Militar classificados, como a RHLT e outras fortalezas e castelos que se encontram na região, potencia-se uma promoção conjunta e não isolada, que é o que todos pretendemos. 

Sente que os portugueses conhecem e valorizam a sua história cultural e militar?

Sinto que os portugueses valorizam a sua história cultural e militar, se bem que nem sempre a conheçam devidamente. A História é uma disciplina nem sempre bem tratada nas escolas e a iliteracia é ainda um problema na nossa sociedade. Mas os portugueses têm orgulho na sua História e na sua cultura, que deram novos mundos ao Mundo, e gostam de visitar os locais mais emblemáticos. Por exemplo, os sítios Património da Humanidade no Centro de Portugal – Mosteiros de Alcobaça e Batalha, Convento de Cristo em Tomar e Universidade, Alta e Sofia, em Coimbra – são importantes referências turísticas e muito visitadas pelos nossos concidadãos.

Que contributo pode a Rota Histórica das Linhas de Torres dar para a qualificação do Turismo Militar? Acha que um produto alavancado na História e na identidade, que anteriormente não estava na primeira linha, pode agora ter um papel a desempenhar na construção de novas narrativas de storytelling e de novas experiências?

A RHLT pode, efetivamente, dar azo à construção de novas narrativas de storytelling e de novas experiências, além de outros produtos. Aqui, a imaginação é o limite. Recriações históricas, centros de interpretação interativos, livros ou espetáculos multimédia são apenas alguns exemplos do muto que se pode fazer para fazer aumentar o interesse no Turismo Militar. O potencial está lá todo: a RHLT é um produto diferenciador e único no mundo pelas suas características. É preciso dinamizá-lo, o que estou certo de que acontecerá com o tempo.

O que falta ainda para que os operadores turísticos se interessem por vender itinerários de Turismo Militar?

Falta, em primeiro lugar, continuar a apostar na estruturação do produto. O produto Turismo Militar, como já referi, tem ainda caminho para andar até ser um produto verdadeiramente maduro e de fácil comercialização por parte dos operadores turísticos. Depois, é preciso acrescentar animação e eventos, de forma a tornar a experiência mais apetecível. Quando houver esse reforço na notoriedade do produto, quando ele estiver “no ponto” para ser vendável, serão os próprios operadores turísticos os primeiros a querer comercializá-lo. Não tenho qualquer dúvida, até porque esse é o percurso natural de produtos turísticos similares.

Portugal tem uma herança patrimonial e militar riquíssima e, no entanto, não há estruturação de produto para comercialização ou, quando existe, é ainda muito incipiente. Acha que o marketing e a comunicação são os pilares que estão a faltar? Ou existem outros?

Um produto turístico constrói-se com vários fatores. De nada serve investir-se em marketing e comunicação se não houver um bom produto de base. Por isso, reitero: em primeiro lugar, há que estruturar o produto, apresentar um produto de qualidade, para poder posteriormente ser “vendido” e comunicado. 

Como pode o turismo militar contribuir para a diminuição da sazonalidade turística no país?

Este segmento assume-se, cada vez mais, como um produto turístico valioso também nesse sentido. É um produto turístico que pode estar disponível ao longo de todo o ano, desde que devidamente estruturado, e que, por isso, permite combater fenómenos como a sazonalidade turística ou o baixo índice de estada média. Quem visita Torres Vedras, Vimeiro, Almeida, Buçaco, Aljubarrota e Tomar, só para citar alguns sítios mais emblemáticos do Turismo Militar na região, não o faz apenas no verão, mas ao longo de todo o ano. Além, claro, de combater a excessiva litoralização da atividade turística no país e de permitir a requalificação, a preservação e a valorização da História e do património.

Na situação em que o país se encontra, que conselhos gostaria de partilhar com as partes interessadas do setor do Turismo?

Em primeiro lugar, quero deixar uma palavra de estímulo aos empresários: encontrem energias para superarem esta fase difícil, com a certeza de que em breve tudo irá melhor. Aproveitem este período para modernizarem processos, para intensificarem a sua presença digital. Sejam criativos, olhem em volta e descubram novas experiências com que possam atrair visitantes aos seus negócios. Sei que nem todas as empresas vão conseguir sobreviver, mas as que o fizerem vão sair reforçadas.

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