De Bucelas a Mafra, de Vila Franca ao Sobral, de Arruda a Torres Vedras, padeiros atarefados, agricultores madrugadores e pescadores das horas pequenas afiançam ter ouvido salvas surdas vindas dos fortes das Linhas. Cães e gatos passaram a noite e o dia desinquietos com o que lhes pareceu um rufar abafado de tambores invisíveis. Um poeta sem sono jura mesmo ter visto fogo de artifício lançado de um reduto para os céus da alvorada.
Para nós não foi surpresa: faz hoje cinco anos que as Linhas de Torres foram classificadas como Monumento Nacional. Motivo de espanto, só mesmo a consciência de quão longo e frutífero foi o caminho que juntos percorremos em tão pouco tempo.
Combatendo uma guerra no seu próprio território e sofrendo durante praticamente meio século as suas sequelas, talvez os portugueses não tenham sentido, nem a sede memorialista de britânicos e franceses – a quem importava a justificação dos seus atos e o registo para a posteridade do seu quinhão de glória militar –, nem as necessidades epistolares de que sempre padece quem se encontra longe da sua terra e dos seus. Quem quereria escrever sobre algo que tanto desejava esquecer?
E à falta de um Goya português que perpetuasse na tela as indignidades de uma guerra que martirizou sobretudo os homens, as mulheres e as crianças do povo comum, dizimando uma parte substancial da população e reduzindo uma ainda maior à indigência e à fome, encarregou-se a memória comunitária de preservar os acontecimentos mais marcantes da relação entre os invasores e a população local.
Estas narrativas populares, assentes em factos verídicos e corroboradas pelos cronistas, depressa entraram no imaginário comum: elas celebram os seus heróis e castigam os seus vilões, choram as ignomínias sofridas e exaltam as glórias alcançadas, mesmo quando são apenas as da coragem, da resiliência e da humanidade.
Uma destas narrativas – Memória ao Massacre de Arrifana – vai ser recriada nesta localidade de Santa Maria da Feira, de 12 a 17 de abril, num evento “que conta com seis dias de programação com diversas atividades para todos os públicos, com entrada gratuita”.
Para informações e inscrições, contacte a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, pelo +(351) 256 370 800, ou através do e-mail santamariadafeira@cm-feira.pt.
Na vasta literatura memorialista que sobretudo britânicos e franceses nos deixaram da Guerra Peninsular, as mulheres, subalternizadas ao relato de táticas brilhantes, feitos gloriosos e confrontos épicos, ocupam – com honrosas exceções – notas de rodapé. Mas são notas de rodapé que gritam “Leiam-me”. Com as crianças, as mulheres foram e continuam hoje a ser, segundo a ONU, a maior vítima dos conflitos armados e aquela cujo sofrimento é mais duradouro e mais silenciado.
Não podíamos ter ficado mais satisfeitos quando soubemos que a edição deste ano do evento Batalha do Vimeiro 1808 (antes conhecido como Recriação Histórica da Batalha do Vimeiro e Mercado Oitocentista) é dedicada à Mulher na Época Napoleónica. Segundo o programa, histórias relacionadas com o tema “serão abordadas num evento que se realiza na área adjacente ao Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro, num espaço ilustrado à época oitocentista.”
“A iniciativa é organizada pelo Município da Lourinhã, em parceria com a Junta de Freguesia do Vimeiro, a Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro, a Associação Napoleónica Portuguesa e conta com um vasto conjunto de atividades temáticas, nomeadamente espetáculos de teatro, performance, música e animação de rua, workshops, tasquinhas, mostras de produtos gastronómicos, artesanato, entre outras atividades que recriam as práticas culturais e sociais da época.”
“Os momentos mais aguardados são as Recriações Históricas da Batalha do Vimeiro, com a presença de recriadores nacionais e estrangeiros que pertencem a nações outrora em guerra, mas hoje reunidos sob o signo da paz e da interculturalidade, bem como o Baile Oitocentista dinamizado pelo Grupo de Danças Históricas da Batalha do Vimeiro.”
Batalha do Vimeiro 1808 será nos dias 19, 20 e 21 de julho. Vemo-nos por lá?
Em 1811, começaram as dificuldades de subsistência: os saqueadores tinham de ir aos armazéns de víveres e em breve precisavam de percorrer mais de 40 léguas para voltar a encontrar alguma coisa; as tropas em avanço comiam até os seus burros. Por fim, as dificuldades de abastecimento tornaram-se tão grandes que os comandantes dos destacamentos receberam ordens para pegar no primeiro camponês que encontrassem e fazer-lhe as mais terríveis ameaças para que revelasse os esconderijos nas aldeias vizinhas. Este método foi bem-sucedido e fomos capazes de nos reabastecer um pouco: cada companhia conseguiu obter um mês de alimentos.
(Marcellin Marbot, oficial do exército francês)
Quando nos perguntam se os nossos fortes alguma vez foram tomados, não podemos responder “Nunca! Jamais! Em tempo algum!”: todos os anos, pela primavera, os fortes das Linhas são ocupados por muitos milhões de frágeis soldados, cada um deles ostentando com brio as cores do seu regimento. Eles são os pacíficos invasores do exército das flores silvestres. *
Se isso o deixa com vontade de saber mais sobre estes tesouros escondidos à vista de todos, está com sorte: o Sobral de Monte Agraço convida-o a ir com a família e os amigos conhecer as flores silvestres do Forte do Alqueidão, onde poderá aprender a identificar as espécies e testemunhar a importância da preservação destes frágeis ecossistemas naturais.
A visita terá lugar no próximo dia 16 de março, no Forte do Alqueidão, entre as 10:30 e as 12:30. As inscrições podem ser feitas através do 261 940 325 ou pelo e-mail doua@cm-sobral.pt.
Numa era de incontornável transição energética e de cuidados acrescidos com a condição física, quando cada vez mais se vê bicicletas e trotinetes deslizando alegremente pelas ruas e as caminhadas e corridas acontecem todos os fins de semana, é talvez fácil perder de vista aqueles que já antes eram pouco visíveis. “Acessibilidade” é uma palavra-chave no turismo, mas, como nos explica Ana Garcia – para quem “a acessibilidade começa quando reconheço que somos todos diferentes” –, não bastam as boas intenções. A presidente da Accessible Portugal defende que habilitar instalações turísticas ao turismo acessível, longe de representar um problema, pode bem ser uma solução e um atrativo para um mercado tão ávido de novas experiências como qualquer outro.
Porque não são daqueles que fazem as coisas pela metade, os nossos gnomos digitais vão labutando sem descanso na manutenção e atualização do InvadeMAG. Enquanto os dias e as noites se sucedem em perpétuo movimento, eles aperfeiçoam o que está feito e acrescentam-lhe novas qualidades. Se de noite sonhamos com um sistema de arquivo e navegação para o InvadeBLOG (que conta já com um número apreciável de publicações), pela manhãzinha ele aí está. Se queremos que os nossos filmes e documentários tenham o seu próprio cantinho no portal, num piscar de olhos o InvadeMOV – “porque não somos capazes de estar sem olhar para o ecrã” – aparece feito. E bem a tempo, porque estamos a trabalhar em dois novos documentários para si.
Depois, há aquelas tarefas de minúcia para as quais Aristóteles não se dignaria criar uma categoria, mas que acrescentam muito à arrumação de uma casa. A página de downloads, que dá acesso a versões PDF das nossas publicações impressas, passou a fazer companhia às ligações para a revista Invade, nas ilustres alturas da barra de navegação superior. E o InvadeMOV ocupou o seu lugar no segundo menu, com as restantes funcionalidades do portal: as Galerias, o InvadeCAST (que, a propósito, terá nova edição dentro de dias) e o InvadeBLOG.
Estas alturas de Vila Franca, a que chamámos posições de Lisboa, porque defendiam a entrada desta capital, tinham sido fortificadas antecipadamente pelo inimigo: estavam entrincheiradas, com paliçadas em vários locais e munidas de canhões de todos os calibres. Após um criterioso reconhecimento, foram consideradas verdadeiramente inexpugnáveis. Talvez tivessem sido atacadas se não fosse a bem cara lição que o exército tinha aprendido no Buçaco.
(Pierre-François Guingret, oficial do exército francês)
Já no próximo sábado, dia 24, crianças com idades entre os cinco e os dez anos podem ouvir Maria na Lua contar “O Vendedor de Felicidade”, de Davide Cali (editado pela Nuvem de Letras e com ilustrações de Marco Somá), na Biblioteca Municipal de Sobral de Monte Agraço, pelas 15:30. A sessão dura aproximadamente uma hora; os efeitos, uma vida inteira.
As inscrições são gratuitas, mas limitadas. Saiba mais através do 261 940 090 ou envie e-mail para bibliotecaservicos@cm-sobral.pt.
2500 anos atrás, Fidípides combatia os persas no campo de Maratona quando se apercebeu de que um navio dos invasores seguia na direção de Atenas. O soldado temeu que a intenção do inimigo fosse a de enganar os gregos na cidade e, transformando a certa derrota persa em Maratona numa narrativa de vitória, levá-los a entregar-se sem luta.
Fidípides lançou fora as suas armas, a sua roupa até, e correu os cerca de 40 quilómetros que separam o campo de Maratona de Atenas, conseguindo chegar à acrópole antes do navio persa. Aos seus ansiosos conterrâneos, disse apenas “Ganhámos!” – e caiu morto de exaustão. E se a história de Fidípides foi mudando ao longo da Antiguidade, de Heródoto a Luciano, manteve-se sempre o espírito inicial da sua corrida como um sacrifício em prol da comunidade.
200 anos atrás, mais de 80 quilómetros de fortificações e redutos foram projetados e construídos para deter outra invasão de uma grande potência. Para recordar e celebrar todos os que contribuíram para as Linhas de Defesa de Lisboa, popularmente conhecidas como Linhas de Torres – dos militares que as pensaram, dos engenheiros que as projetaram e dos populares que as edificaram –, que melhor do que uma maratona?
O Linhas de Torres Running Challenge é um conjunto de provas de corrida, maioritariamente de trail e com alguns percursos em estrada, que decorrem nos locais onde há dois séculos se levantaram as Linhas de Torres e hoje inseridos nos concelhos de Arruda dos Vinhos, Loures, Mafra, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras e Vila Franca de Xira.
Se se sente um Fidípides, a maratona de 42 quilómetros espera por si, mas outras três modalidades – 10K Trail, 6K Caminhada e, para os mais novos, 2K Kids Race – garantem um brilharete e muita diversão a todos os que queiram participar. A Associação dos Deficientes das Forças Armadas é a instituição beneficiária do evento.
Para mais informações, clique aqui.
É uma verdade universalmente reconhecida que gente que é gente no turismo em Portugal, ou está de férias, ou está na Bolsa de Turismo de Lisboa; nós, porque não somos capazes de dizer que não a uma escapadinha até à FIL, não perdemos uma edição.
Este ano, integrada no Turismo Centro de Portugal, a Rota Histórica das Linhas de Torres espera por si no stand 1A03 do pavilhão n.º 1 – Destinos Nacionais.
.Visite a página oficial da BTL aqui.
Eu costumava divertir-me muito vendo os nossos oficiais da marinha chegar de Lisboa montados em mulas, com óculos de espionagem de navios, grandes como canhões de seis libras, amarrados atrás das selas. A sua primeira pergunta era invariavelmente: "Quem é aquele tipo ali?" (apontando para a sentinela inimiga, perto de nós) e, quando lhe diziam que era um francês, "Então por que diabo não lhe dão um tiro!"
(John Kinkaid, Adventures in the Rifle Brigade)
Pegue no seu smartphone e prepare-se para ser alistado nos exércitos da Guerra Peninsular: uma nova app, Itinerários Napoleónicos, está disponível para as plataformas Android e iOS, pronta para o transportar aos palcos dos acontecimentos das 1.ª e 3.ª Invasões Francesas. E porque História e Cultura são melhor aproveitadas quando acompanhadas por uma boa dose de entretenimento, um sofisticado jogo de Realidade Virtual permite-lhe visitar os locais e personificar os protagonistas da Guerra Peninsular, participando diretamente nos acontecimentos e competindo com jogadores de todo o mundo.
As novidades, porém, não acabam aqui. Passaram a estar disponíveis, nos Centros de Interpretação das Linhas de Torres, equipamentos de Realidade Virtual que lhe permitem “mergulhar” nos locais e acontecimentos da Guerra Peninsular – que estes tenham ocorrido há mais de duzentos anos não é um problema, mas uma excelente oportunidade.
Estes equipamentos, bem como a app, integram uma ampla rede de experiências de VR promovidas pelo Turismo de Portugal no âmbito do projeto Itinerários Napoleónicos, integrado no programa Valorizar Interior. Elas oferecem uma nova forma de aprender e apreciar as narrativas históricas e podem ser vividas, para além das Linhas de Torres, em Almeida, Bombarral, Elvas, Mealhada, Mortágua e Penacova.
Clique aqui para mais informações, descarregar as aplicações e começar a sua vida épica nos exércitos peninsulares.
O que acontece quando uma pastora de princípios muito rígidos descobre que a orientação sexual do filho não está de acordo com os ditames que prescreve? Acontece o riso, pelo menos em palco, dá a entender o encenador Celso Cleto, do Teatro Dramax Oeiras, sobre o efeito da sátira de costumes que Sofia Alves protagoniza e que conta com Diogo Lopes e Filipe Matos.
Em digressão nacional, a peça de John Borg estará de visita a Sobral de Monte Agraço no dia 22 de março, que assim assinala o Dia Mundial do Teatro. Veja os detalhes aqui.
No entanto, surgiram muitas discussões e dificuldades quanto à interpretação que cada parte desejava dar aos artigos da convenção de Sintra que se referiam à bagagem privada do exército. Os portugueses estavam naturalmente ansiosos por que os homens que tinham saqueado as suas igrejas, museus e mesmo as suas habitações não pudessem levar esse saque sob a designação de propriedade privada; enquanto os franceses protestavam contra qualquer busca ou inquérito sobre a extensão da sua bagagem. Não era fácil para o general britânico seguir um rumo correto em tais circunstâncias, mantendo, como desejava, um respeito estrito pela sacralidade das suas próprias promessas. Por um lado, sentia que, quaisquer que fossem as palavras do tratado, o seu espírito não era de molde a sancionar os numerosos actos de peculato e roubo de que os franceses poderiam ter sido culpados; e declarou isto com grande clareza ao Marechal Junot. Por outro lado, viu que, em muitos casos de alegada pilhagem, seria extremamente difícil identificar os bens alegadamente roubados. Assim embaraçado, tomou a única medida judiciosa que estava ao seu alcance. Foi nomeada uma comissão de inquérito, perante a qual todas as queixas deveriam ser apresentadas; e a quantidade de bens restituídos aos legítimos proprietários pelas suas decisões foi imensa.
(Charles William Vane, Story of the Peninsular War)
Que comandante da era napoleónica não gostaria de poder sobrevoar o campo de batalha como uma águia, observar enquanto as suas manobras são executadas pelos exércitos, ver como o inimigo posiciona as suas forças e agir em conformidade? Ele não podia, mas a si, nada o impede.
De 3 de fevereiro a 5 de abril, entre num mundo onde a grandiosidade das batalhas napoleónicas ganha vida em miniatura. A exposição de modelismo Invasões, patente no CIBV - Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro, oferece uma forma única e alternativa de abordar a temática do período napoleónico.
Concebida pelo grupo Modelstep, esta exposição, de entrada livre, apresenta dioramas e maquetas pormenorizadas que captam – ao mais pequeno detalhe – a essência de uma época crucial da história europeia.
João Tarrafa, dramaturgo, ator e encenador, leva à cena na próxima sexta-feira, no Centro Cultural do Morgado, A Conta que Deus Fez:
No rescaldo das Invasões Francesas em Portugal, um homem reflete acerca daquilo que restou do povo deste país após ter sido arrasado tanto pelas tropas de Napoleão Bonaparte como pela “Política da Terra Queimada”, a própria estratégia que nos levou à vitória. Memórias fundidas em humor e amargura que colocam o povo português como protagonista desta guerra.
Não é preciso fazer muitas contas para assistir: os bilhetes custam €4 e estão à venda em
https://viver.arrudadosvinhos.com.pt.
Porquê “Itinerários Napoleónicos” e não apenas “Invasões Francesas”? É Portugal um destino de turismo militar por excelência, ou é o turismo militar uma das excelências do turismo em Portugal? Tornaram-se a tecnologia e a interatividade indispensáveis a uma experiência turística completa? Neste segundo episódio do InvadeCAST, Ana Raquel Machado conversa com Teresa Ferreira, diretora do Departamento de Dinamização da Oferta e dos Recursos do Turismo de Portugal, que desde há muito vem ponderando estas e outras questões.