A edição de 2021 do Festival Novas Invasões realizou-se num clima de desafios, incertezas e gestão de expectativas. No primeiro trimestre do ano assistiu-se ao agravamento de saúde pública da Covid-19, que levou o governo a decretar novas medidas para mitigar a propagação do vírus e a um novo confinamento. Como consequência, devido às dificuldades de circulação de artistas a nível internacional, não houve país convidado.
Sem país convidado, houve necessidade de reconfigurar o Festival, adequando-o às regras sanitárias, em constante mutação. Face ao impacto do Covid-19, a 4ª edição do FNI assumiu uma postura de resistência, perante vários desafios.
O primeiro desafio, podemos afirmar, foi resistir ao clima de incerteza que se revestiram as próprias condições da sua realização.
Face ao impacto da pandemia no tecido cultural local, o maior objetivo deste ano passou por envolver o maior número possível de agentes culturais. Para tal, empreendeu-se um trabalho de mediação, num curto espaço de tempo, em diversas vertentes: apoios à criação, figuração, formação, apresentação e voluntariado.
O derradeiro desafio relacionou-se com a resposta do público, depois de um longo período de confinamento, e com condições de participação bastante alteradas, face ao modelo ‘normal’ do Festival. A resposta foi esclarecedora, naturalmente com uma quebra de participação em comparação com o festival de 2019, mas com praticamente todas as sessões esgotadas.
Não obstante o enquadramento excecional, foi uma edição verdadeiramente aberta à participação local, desenvolvendo e demonstrando a vitalidade da cidade de Torres Vedras e a potencialidade de um modelo de festival que envolve as comunidades e se afirma como um acontecimento singular, irrepetível. O Festival funcionou como uma plataforma onde a cidade e os seus habitantes convivem e mostram a sua criatividade e as suas qualidades, trabalhadas ao longo dos anos. Foi, nesse sentido, o epílogo de um longo processo de transformação e construção cultural, características que pensamos ser de acentuar em edições futuras, nas quais se poderá valorizar ainda mais o trabalho cultural e artístico que se faz cotidianamente no concelho.
Artisticamente pretendeu-se manter a qualidade e a dimensão internacional do Festival, nesta edição aumentando a relação com as estruturas e artistas locais, a área de implantação e a afinidade com a cidade. As relações entre associações e entre artistas deu singularidade e sentido único ao trabalho realizado. Somos um Festival com um espaço identitário que eleva a cidade e as suas gentes e as suas associações artísticas e culturais a um patamar de autorrealização que é simultaneamente: formativo, criativo e mediador. O FNI transporta um potencial de relacionamento com os processos históricos que não procuram redimir passados, mas confrontar-se com as suas práticas e memórias através da criatividade e inovação artística. É um projeto de indivíduos e da cidade cruzando tempos e abraçando as questões da nossa época. Nomadismo e mobilidade, ecologia e ambiente, a ligação à terra e o confronto entre tradições e contemporaneidade, as tensões entre o individual e o coletivo são temas e conceitos que atravessam e circulam em permanência em cada edição do FNI.